terça-feira, 18 de outubro de 2011

Deus...

 Ivani de Araujo Medina 
Na Antiguidade existiam os deuses, tanto que religio, onis significa culto prestado aos deuses (no sentido original) e não aquelas patacoadas etimológicas criadas por Lactâncio (religare) e Agostinho (reeligere), respectivamente “ligar novamente o Homem ao criador” e “necessidade do ser humano religar-se ao divino”. Foi a teologia cristã (engenharia da enganação) que criou essas bobagens.
Como admirador da história sei muito bem que os judeus eram politeístas que resolveram prestar culto a um indeterminado deus (para os não-judeus). “Não terás outros deuses diante de mim. [...]” O propalado monoteísmo judaico é para a platéia não-iniciada e não para os judeus esotéricos. Deus é uma invenção ou fusão de concepções judaica e grega criada nos primeiros séculos. Antes não havia esse Deus universal no Ocidente. Não havia concepção do divino semelhante nesse aspecto em parte alguma, senão no Egito. Mesmo assim a concepção de um deus único egípcio não se estendia propositalmente a outros povos, como no caso do judaísmo antigo e cristianismo de todas as épocas. Portanto, você está enganado porque a história de Deus é recente sim.

O criador do monoteísmo foi o faraó Akenaton (Amen-hotep IV) que reinou de 1364 a 1347. Foi odiado por ter banido o culto aos deuses e os egípcios tentaram apagar seu nome da memória nacional. Instituiu o culto ao deus Aton, uma divindade solar, e foi sacerdote em Heliópolis (cidade do Sol). As águas do Nilo inundavam as terras e o calor e a luz do Sol criava a vida em suas margens, propiciando a subsistência daquele povo. A cidade de Heliópolis, que era um conhecido centro de sabedoria na Antiguidade, teria sido visitada por Platão que alimentava a idéia monoteísta. Pois, foi a partir do neo-platonismo que o filósofo judeu Filon de Alexandria aproximou o judaísmo das idéias gregas, não para criar objetivamente o cristianismo, mas numa tentativa de reduzir os atritos entre gregos e judeus em Alexandria. A ciumeira grega recrudesceu por causa do protecionismo da legislação romana, criada por Júlio César em agradecimento ao apoio às pretensões políticas romanas na Judéia, recebido das lideranças judaicas de Antípatro (pai de Herodes) e do sumo sacerdote João Hircano. Involuntariamente, Filon estabeleceu a base filosófica do cristianismo e, praticamente, a idéia de Deus consumida na atualidade. Não obstante, existem pontos de contato entre as crenças judaicas e as egípcias.

“O Prof. Adolf Erman redigiu então o ensaio Em Denkmal memphitischer Theologie92 [Um Monumento da Teologia Menfita], que fixou a data do texto como o início do Antigo Reino, e essa primeira demarcação foi agora confirmada.93 O pedaço de pedra quebrada tinha recebido seu conteúdo literário de um documento anterior "devorado por vermes", que fora copiado, para ser preservado, no século oitavo a.C. por ordem de certo faraó Sabakos. E a razão de toda a agitação quando sua mensagem foi decifrada foi o fato de se considerar que o texto antecipara em dois mil anos a idéia da criação pelo poder da Palavra, que aparece no Livro do Gênese, onde Deus disse 'Faça-se a luz", e a luz foi feita. Ademais, na versão egípcio antiga dessa cena não testemunhada, o ponto de vista (como no relato indiano do Si-Próprio que disse "Eu" e se tornou dois) era Intrínseco à divindade e era psicológico; ou seja, não era, como a versão bíblica, um relato apenas da Seqüência de ordens e seus[pag. 073] efeitos acrescidos do refrão "E Deus viu que era bom".
 No texto de Mênfis do deus-múmia Ptá, somos informados de que foi o coração de Deus que gerou todas as coisas e a língua de Deus que repetia o que o coração tinha pensado: "Toda palavra divina passou a existir pelo pensamento do coração e a ordem da língua." "Quando os olhos vêem, os ouvidos ouvem e o nariz respira, eles se comunicam com o coração. É o coração que concebe tudo e a língua que repete o pensamento do coração. Assim foram criados todos os deuses; mesmo Atum e sua Enéade." (Campbell, p. 89)
Sabidamente os judeus antigos não suportavam os egípcios, no entanto, alguns egiptólogos afirmam que não existem provas do Êxodo. O que percebemos é que os empréstimos eram usuais e as histórias inventadas para serem tomadas como reais, uma vez que a crença tem o poder de catalisar forças internas, como acontece com o catalisador de resina, endurecendo-as diante dos infortúnios. O sucesso do Velho Testamento continua o mesmo de dois mil anos atrás.


O encrati
smo é atribuído a Taciano e não a Menandro.

Caro Christian

Levei algumas décadas pesquisando o assunto cristianismo. Depois de um período de confusão, por falta de método, considerei uma dica preciosa de um historiador cristão muito conhecido no meio, Henri Irénée Marrou. Assim pude avançar finalmente na pesquisa. Aconselhava o professor Marrou que o primeiro passo ao se lidar com a história é fazer uma pergunta ao passado. Então, fiz a minha: porque seguimos os judeus? Ficou parecendo que sou partidário do judaísmo quando o que defendo é a história. Em 2009 publiquei na Internet um resumohttp://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/jcgrego.pdf como um balão de ensaio para ver no que dava. Minha intenção era fortalecer-me com a crítica e continua sendo. Hoje, para mim, esse balão murchou um pouquinho, o tempo passa e ficamos mais críticos com a própria obra. Mas nada, além disso, continuo gostando dela por inteiro.
A bibliografia solicitada está nas últimas páginas. Um truque para se abreviar o tempo numa pesquisa, considerando que a história é orientada pela filosofia do historiador, é selecionar as notícias históricas por assunto no período a ser pesquisado. A montagem de um mapazinho de produção facilita muito. Dá uma idéia muito boa e menos influenciada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário